Meu filme de Almodóvar
Hoje é aniversário do meu melhor amigo, e estamos a 2.119,6 km de distância. Isso significa 445h andando, 115 horas pedalando, 1 dia e 20h de ônibus, 28h de carro e 2h35m de avião. Mas eu não tenho bicicleta, nem carro, nem condições de andar isso tudo, nem dinheiro pra ir de avião agora, assim, do nada, só pela força da saudade e da vontade de abraçá-lo, de tomar uma cerveja, de fumar uma ou outra coisa, de rir, chorar, compartilhar, falar, dizer coisas, não dizer algumas, ficar olhando a cara dele, o riso, o cabelo, os brincos, as tatuagens… e pensar: “Poxa, como eu amo ele”. E continuar ali admirando, observando, nos analisando.
É, infelizmente, não tenho como ir. Coube um áudio, que antes seria uma mensagem de texto, mas eu não consegui desenvolver. Não sei explicar, mas quero ressaltar aqui que tenho muita dificuldade em mandar mensagens de aniversário em texto. Sempre acho que escrevo a mesma coisa. Minha cabeça vai pra um lugar que só consegue dizer a mesmíssima coisa novamente. Então, eu mando áudios. Me parece que vai mais verdadeiro, de dentro, sei lá, cuspindo a palavra mesmo ali.
E aí mandei um áudio. Por isso disse que só coube um áudio, mas foi um áudio grande, bonito, potente, cheio de sentimento. Grande no sentido de dimensão sentimental, tá? Não aquele áudio agressivo de 9 minutos etc. Chorei que só. Sempre me emociono quando tento tocar outra pessoa, e tentar tocar Hugo sempre me parece desbravador. Não sei explicar, mas acho que ele vai entender. Ele sempre sabe, entende, compreende e explica. Ele é o máximo. Queria estar junto fisicamente. E agora quero chorar novamente.
Ontem coloquei pra tocar uma playlist que fiz em homenagem a ele, chamada “Quando eu tô com saudade de Hugo”. Começou tocando “Catarina”, de Manu Gavassi, que ela escreveu pra irmã. Coisa linda, sensível, igual eu e ele. E é assim que o vejo: como irmã, irmão, família, amigo e presente. Presente, é isso que ele é. Presente do universo pra mim e pra quem tem a sorte de cruzar com ele. E que cruzamento, viu? Pense numa lapa de encruzilhada. Coisa linda e potente.
Penso que botei a playlist sem perceber que era meu inconsciente já me dizendo da falta, da saudade, da vontade, de hoje, de estar lá, do lado dele, vendo um filme do Almodóvar ou um seriado latino pra gente depois ficar imitando as falas da personagem mais caricata. Queria estar lá simplesmente pelo verbo estar, que é irregular, mas presente. Presente de aniversário. O meu presente é esse: não mandei nada pra ele, mas pensei tanto nele e estou aqui dizendo, do meu jeito, que é esse: que ele é meu maior amigo em todos os universos que existo.
Feliz aniversário, meu outro coração. Te amo imensuravelmente.